segunda-feira, 4 de setembro de 2017

Meteorito ainda intriga moradores 50 anos após queda no interior de SP: 'achava que era um disco voador'


O barulho e o clarão observados no céu ainda estão presentes na memória de quem os testemunhou em 14 de agosto de 1967. Cinquenta anos depois, a queda do Meteorito Saulo Gomes ainda intriga moradores da região de Ribeirão Preto (SP), onde seus fragmentos foram encontrados.
"Todo mundo perguntava o que tinha acontecido, mas ninguém tinha explicação. A maior parte achava que era um disco voador, uma bola de fogo, mas ninguém sabia o que era realmente", afirma Rita de Cássia Puccini, que tinha 13 anos quando vivenciou o fenômeno astronômico em São Simão (SP).
O episódio colocou a cidade até então de 15,5 mil habitantes do interior de São Paulo no noticiário nacional e internacional da época.
Com nome em homenagem ao jornalista que preservou seus três únicos resquícios conhecidos na Terra, o aerólito foi classificado por pesquisadores brasileiros, da Unesp de Rio Claro (SP), e canadenses, de um laboratório de Vancouver, como um condrito ordinário, ou seja, um tipo comum de meteorito, composto pela mesma matéria que deu origem ao sistema solar há 4,5 bilhões de anos.
A descoberta da ciência, que somente veio em 2009, foi possível porque Saulo Gomes, jornalista da extinta TV Tupi em São Paulo que cobriu a queda do meteorito em 1967, guardou por quatro décadas as pedras encontradas no estábulo de uma fazenda em Buritizal (SP).
Dessas, uma ficou de recordação. Outra foi doada ao Museu Heinz Ebert, na Unesp de Rio Claro - onde a pesquisa foi realizada -, e a terceira foi concedida, há três anos, para o Museu Nacional do Rio de Janeiro, que detém a maior coleção no país de fragmentos espaciais coletados desde o Brasil Império.
"Produto realmente de intuição. Três pedras, produto de uma reportagem. E não tínhamos a menor ideia que elas faziam história", diz o jornalista.

"Bola de Fogo"

O fotógrafo aposentado Antônio José Zerbetto dormia quando foi acordado por seu pai, assustado, por volta das 3h40 de 14 de agosto de 1967, em São Simão. "Uma bola de fogo caiu do céu aqui na região", lembra.
Em um grupo formado por quatro pessoas, ele saiu à procura do objeto misterioso em meio ao cerrado característico da região. "A cidade inteirinha entrou em alvoroço, todo mundo falando, só se falava nisso. Qualquer rodinha que você ia, qualquer lugar, o assunto era esse”, lembra.
Foram seis horas de buscas cheias de dúvidas e nenhuma certeza na volta para a cidade. "A gente ouvia falar do clarão e do estrondo que deu. Mas não achamos nada. Achamos uma queimada, olhamos em volta não tinha sinal nenhum de reviravolta no chão, nada", cita.
O empresário Sérgio Salvador relata que os moradores, com medo e sem saber o que tinha acontecido, chegaram a cogitar a explosão de uma locomotiva. "A cidade ficou em polvorosa, ninguém sabia o que tinha acontecido. Se era bomba, se tinha caído alguma coisa", diz.
A notícia chegou por volta das 6h à redação da extinta TV Tupi, em São Paulo, onde o repórter Saulo Gomes, também conhecido na época por coberturas como a respeito do médium Chico Xavier, estava de plantão. Quatro horas depois, ele e sua equipe estavam em São Simão para iniciar o trabalho de apuração.
"Caminhoneiros, motoristas de carros, de ônibus, abordados por mim na estrada e em cidades vizinhas, disseram que a luminosidade que se espalhou a partir da explosão aqui em São Simão, deu a sensação de que estávamos em pleno dia. Muitos motores de veículos apagaram sem nenhuma explicação", conta.

Na época, a existência de uma grande formação rochosa existente no cerrado - o que anos mais tarde se confirmou ser um "Arenito de Botucatu" - confundiu as buscas e chegou a dar falsas pistas sobre o meteoro no município. "Ela já existia aqui, colocada pela natureza, há milhares de anos, mas não tem nada a ver com o que explodiu aqui em São Simão”, afirma o jornalista.
Como o efeito da explosão foi sentido fora de São Simão, a aproximadamente 150 quilômetros, Gomes saiu em busca de testemunhos e indícios em diferentes localidades. Uma jornada que o levou a Buritizal, onde moradores relataram danos decorrentes da precipitação de pedras. Algumas delas caíram no estábulo da Fazenda Buritis.
Ao ver os objetos escuros e aparentemente queimados, o jornalista não teve dúvidas em guardar para si mesmo sem ter a certeza, por anos, que eles eram, de fato, os procurados meteoritos que haviam entrado na órbita terrestre.
"Como sempre tive um hábito de guardar coisas, como recordações do meu trabalho, que eu considero um verdadeiro troféu, o cocar de um índio, a flecha de outro, eu trouxe as pedras e guardei."
Mesmo diante das descobertas científicas, o assunto ainda desperta um clima de mistério entre os moradores. "Tem gente que ainda não sabe o que realmente aconteceu", afirma Rita de Cássia.

Fonte: G1-EPTV

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